viagens de comboio

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Para os train lunatics que por aí andam, a velocidade com que chegamos do ponto A ao ponto B não é o mais importante numa viagem. O que mais importa é o ter a noção da escala, sentir a distância, ultrapassar fronteiras naturais e ver a paisagem mudar. O mais importante é não desconectar e isso consegue-se viajando de comboio.

Seja pelas paisagens que atravessam, pela experiência cultural que proporcionam ou simplesmente pelo que simbolizam, aqui ficam algumas viagens de comboio espectaculares: 

Durango – Silverton | Estados Unidos

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No coração do Colorado encontramos um comboio capaz de nos transportar 130 anos atrás no tempo. A ferrovia chegou a Durango em 1881 e um ano mais tarde à cidade de Silverton. Hoje é possível fazer esta viagem entre as duas cidades mineiras numa locomotiva histórica a carvão, apreciando a paisagem espectacular do Colorado.

Este também é um comboio muito cinematográfico, que foi estrela do filme Butch Cassidy and the Sundance Kid em 1969, com Paul Newman e Robert Redford. 

Qualquer comboio | Índia

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É escusado dizer, nenhuma visita à Índia está completa sem apanhar um dos seus comboios, numa das experiências culturais mais intensas que se pode ter.

São os chaiwalas a gritar “chai!” enquanto passam nos corredores, os meninos a impingir rebuçados, as ventoinhas que não nos deixam dormir, os bancos de baixo cheios de passageiros que não compraram bilhete, os ratos no chão a explorar restos de biryani, as senhoras de bebé ao peito que estendem bananas pelas grades da janela e o comboio já em andamento. É como se introduzíssemos caos numa vida mais ou menos organizada. Imperdível. 

Chiang Mai – Bangkok | Tailândia

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Da minha experiência, os comboios tailandeses não primam especialmente pela pontualidade, mas nunca vi um serviço de montagem de beliches tão eficiente. A viagem é longa e por isso é reclinar e aproveitar o verde vivo dos arrozais. 

Sargan 8 | Sérvia

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Esta linha de bitola estreita faz parte do caminho-de-ferro que ligava Sarajevo a Belgrado, desactivada desde 1974. O troço designado por Sargan 8 é um troço único no mundo por em planta ter a configuração de um 8 (solução encontrada para ultrapassar o desnível até ao topo da montanha de Sargan).

O pequeno comboio parte de Mokra Gora para uma viagem curta mas muito pitoresca pelas montanhas das balcãs com paragens em apeadeiros de madeira, tudo ao som da música enérgica de Goran Bregovic. Impossível ficar indiferente, principalmente se formos fãs dos filmes do Emir Kusturica. 

Cuzco – Machu Picchu | Peru

Uma linha ferroviária que liga dois dos destinos mais apetecíveis do Peru, a cidade colonial de Cuzco e a cidadela inca maravilha de Machu Picchu. É uma viagem que dura aproximadamente 3-4h através de vales, montanhas, às vezes junto ao rio Urubamba, e o melhor, é que não há alternativa aos carris, até chegarmos à vila ferroviária de Aguas Calientes. 

Flamsbana | Noruega

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Um must ferroviário em terra de barcos a cruzar preguiçosamente os fiordes da Noruega. A ferrovia de Flam sobe a pique desde a costa do fiorde Aurlandsfjord, (um tributário do fiorde dos Sonhos) até ao plateau de Myrdal passando por várias impressionantes e fotogénicas cascatas e quedas de água. 

Qinghai Tibet Railway | Tibete

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Para embarcar a bordo do Qinghai Tibet Railway poderá ser boa ideia levar uma botija de oxigénio de emergência e será certamente necessário assinar um termo de responsabilidade de saúde, por causa da altitude superior a 5000m a que este comboio circula. Mas o mais certo é não perceber nada por estar apenas escrito em chinês.

Esta linha de comboio foi um grande feito de engenharia por grande parte da sua extensão estar construída sobre “permafrost”, mas o mais incrível desta experiência ferroviária épica é que nos leva até Lhasa, a capital do Tibete. 

Linha do Douro | Portugal

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Sem dúvida uma das maneiras mais fáceis –e mais espectaculares- de apreciar as paisagens do maravilhoso vale do Douro vinhateiro é saltar para dentro do comboio da Linha do Douro e fazer o percurso da Régua até ao Pocinho. Da Régua até ao Pinhão o percurso é muito panorâmico com a linha do comboio de um lado do Rio, a  estrada do outro e as vinhas a descer dramáticas até à beira da água. Do Pinhão até ao Pocinho encontramos um Douro mais intimista num vale mais fechado e misterioso.

E porque não há lista que esteja completa enquanto estivermos a respirar, deixo aqui as menções honrosas a sonhos ferroviários ainda por realizar: 

Orient Express | Europa

O Expresso do Oriente original ligava Paris a Constantinopla em 5 dias. O seu trajecto passava por cidades como Munique, Viena, Budapeste, Bucareste, Belgrado e Sofia, mas foi alterado ao longo do tempo, muitas vezes por razões políticas. No final do séc. XIX era considerado o comboio mais luxuoso do mundo, mas o seu percurso foi sendo encurtado e acabou por ser desactivado por não conseguir competir com os comboios de alta velocidade.

Glacier Express | Suíça

Esta viagem é um festim para os sentidos, de St Moritz até Zermatt. Atravessa os alpes suíços com a paisagem pontuada por chalets de madeira e picos nevados até chegarmos a Zermatt e pormos os olhos numa das montanhas mais bonitas do mundo, o Materhorn. 

Transiberiano | Rússia

Provavelmente a viagem de comboio mais icónica do planeta, a mãe de todas as aventuras ferroviárias, a viagem de Moscovo até Vladivostok (ou até Pequim, atravessando a Mongólia), em que provavelmente se perderá a noção do tempo, seja pelo atravessar de fusos horários ou pela paisagem da estepe imutável embalada por golos de vodka.

 

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